O lixo não se desmancha no ar. Lei de Lavoisier é fundamental para a consciência ambiental: "Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma."
Cena comum em cidades brasileiras: pessoas lançam lixo da janela de seus carros, em pleno movimento. É como se tudo que passasse pela janela de um carro fosse capaz de desaparecer: bituca e maços de cigarro, sacos plásticos, papéis, cascas de frutas, latas de cerveja. O comportamento de desrespeito com o meio ambiente e a falta de urbanidade leva ao entupimento de bueiros e bocas-de-lobo; à proliferação de pragas e doenças; ao assoreamento dos córregos e sistemas de drenagem, e às inundações, e vitimam os habitantes e a sustentabilidade das cidades.
O mesmo pode ser observado nos cursos d’água. Eles são o destino final de pneus velhos, sofás, restos de mobília, lixo doméstico. É como se, por um milagre, as águas pudessem fazer tudo sumir. Indústrias e até países fazem o mesmo ao enterrar seus resíduos sólidos e o lixo atômico. É como se ao “esconder” o lixo, as sucatas e os resíduos, com uma camada de terra ou na profundidade de minas abandonadas, tudo desaparecesse ou fosse digerido pelas entranhas da Terra.
Pior ainda são as administrações municipais e estaduais. Elas coletam o esgoto das casas e indústrias e, depois, em muitos casos, o lançam nos rios e oceanos sem tratamento. Os cursos d’água são considerados um enorme depósito, um digestor natural de matérias cloacais. O mesmo ocorre com os poluentes gasosos.
A fumaça das chaminés das fábricas, das queimadas agrícolas, dos carros, ônibus e caminhões é lançada aos céus, com uma espécie de crença: um pouco de vento e tudo vai se diluindo e se dispersando. Fala-se em “condições favoráveis ou desfavoráveis à dispersão dos poluentes”, mas não em seu desaparecimento. Poluentes dispersam-se para onde?
“Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.” Essa frase ainda é pouco conhecida no Brasil. Ela poderia e deveria ser a base de todos os cursos de educação ambiental. Ela resume, filosoficamente, a chamada Lei da Conservação de Massas, enunciada por volta de 1.774 pelo químico francês Antoine Lavoisier, hoje mundialmente conhecida como Lei ou Princípio de Lavoisier. Ele foi um dos pais da química moderna e muito contribuiu para afastar essa nova ciência das crenças sem fundamento da alquimia. Preocupado em utilizar métodos quantitativos, Lavoisier usava balanças de grande precisão em suas atividades experimentais. Diz-se que “com três balanças, ele separou a química da alquimia”. Conforme ele demonstrou, durante o processo químico há somente a transformação das substâncias reagentes em outras substâncias, sem que haja perda nem ganho de matéria. Os átomos das substâncias reagentes são encontrados, embora combinados de outra forma, nas moléculas dos produtos.
O oxigênio, do qual se sente falta no ar poluído das cidades, foi descoberto por Lavoisier ao estudar reações ácidas. Foi ele quem lhe deu esse nome, que significa gerador de ácidos. O químico francês realizava experiências sobre a combustão e a calcinação de substâncias. Observou que o peso dos óxidos resultantes dessas reações era sempre maior que o das substâncias originalmente usadas. Então demonstrou a presença do gás oxigênio no ar e sua participação nos processos de respiração, combustão, oxidações e diversas reações químicas. Ele também descobriu, nomeou e descreveu as características do nitrogênio, do hidrogênio e do gás carbônico.
A Lei de Lavoisier
Governos, prefeituras, ONGs e entidades ambientalistas recebem aplausos ao anunciar programas e financiamentos para a limpeza de um rio, uma lagoa, um parque, um porto ou até uma baía. Mas cabe sempre a pergunta: onde vão colocar o lixo retirado? Ele não vai desaparecer. Para muitos, o importante é que a cidade pareça limpa e o meio ambiente, sem resíduos. Sem se preocupar com as conseqüências de resíduos acumulados e “escondidos” em algum lugar. Poucos se interrogam sobre a real necessidade de gerar tantos resíduos e sobre o destino final do lixo e efluentes. A dona de casa usa os mais diversos produtos químicos para que a sua residência e as roupas estejam limpas, sem questionar o destino final desses efluentes domésticos.
O lixo deve ser coletado das ruas, mas onde vai parar? Desaparece ao ser tragado na caçamba do caminhão de lixo? Ensinar o Princípio ou a Lei de Lavoisier aos estudantes é dar-lhes uma base sólida para progredir, com racionalidade, na busca de um mundo mais sustentável. O princípio aplica-se à nossa vida, aos nossos corpos e a todos os ecossistemas. Constantemente renova-se a matéria de que somos constituídos, pela troca de átomos, por meio dos nutrientes que ingerimos. As plantas retiraram esses nutrientes dos solos. Nossos antepassados aprenderam a fertilizar os solos agrícolas com os resíduos de suas casas e de seus animais, como num ciclo.
Em Ecologia é errado falar de fluxo de matéria e energia. Fluxo de energia, sim, mas de matéria são ciclos (ciclos biogeoquímicos). Por isso, também é errado, mesmo se com boas intenções, fazer afirmações alarmistas do tipo: a água do mundo está acabando! Não somos capazes nem de criar quantidades significativas de água nem de fazê-la desaparecer. A água torna-se escassa em conseqüência do aumento da demanda ou do uso inadequado. Ela fica imprópria ao consumo humano e animal devido à poluição, mas é a mesma quantidade de água existente no planeta, há milhões de anos.
Durante a barbárie da chamada Revolução Francesa, Lavoisier foi acusado de “inimigo do povo”. O revolucionário Marat, recusado por Lavoisier na eleição para a Academia de Ciências, vingou-se dissolvendo as sociedades científicas. Os cientistas de toda a Europa enviaram uma petição aos juízes para que poupassem a vida de Lavoisier, em respeito a seu valor científico. O sinistro Jean-Baptiste Coffinhal, servidor do Tribunal Revolucionário e da Comuna de Paris, recusou o pedido com a frase: “A França não precisa de cientistas”. Lavoisier foi guilhotinado no dia 8 de maio de 1794. A Revolução Francesa trouxe um período de obscurantismo, tirania e terror. O matemático Lagrange sobreviveu a Lavoisier, e declarou: “Não bastará um século para produzir uma cabeça igual à que se fez cair num segundo”.
O Terror e a Revolução Francesa passaram e os ensinamentos de Lavoisier não se perderam. Eles servem de base, até hoje, aos princípios de sustentabilidade e das ciências modernas. A Terra não é um reservatório inesgotável nem um depósito capaz de receber infinitos resíduos. Ela deve ser tratada como um organismo único e fechado em termos de matéria, como na hipótese Gaia, mesmo que ela seja um sistema aberto, em termos energéticos, alimentado pelo Sol. A ciência e a razão devem combater os mitos e as mistificações, mesmo quando são pretensamente ecológicos, revolucionários ou a favor do meio ambiente. A sustentabilidade ambiental exige um comportamento responsável dos cidadãos, comunidades, empresas, governos e líderes: reduzir os desperdícios, aprendendo sempre a reutilizar e reciclar. Esse sempre foi um dos segredos do sucesso da manutenção da vida em nosso planeta.
Texto extraído da Revista Carta na Escola
Realmente a reciclagem deve ser cada vez mais incrementada, pois a produção de lixo só tende a aumentar e com isso os problemas começam a tornar-se crônicos.
ResponderExcluirAbraços forte
Ótimo post! parabéns!
ResponderExcluirBoa reflexão!
ResponderExcluirmuito legal parabens
ResponderExcluirÓtima reflexão !!!!!Precisamos de mais pessoas preocupadas com esta questão !!!!!bjcas
ResponderExcluirA questão não é só a reciclagem em si. Devemos reciclar? Óbvio! Mas a causa do problema é justamente a produção desse lixo, a reciclagem nunca será o bastante quando se extrai o máximo de recursos que o planeta pode nos dar. Os equipamentos são feitos justamente para que se tornem obsoletos o mais rápido possível, os produtos são cada vez mais embalados, o consumo não se resume mais a adquirir itens necessários. Hoje impera o consumismo, compramos tudo o que dizem ser util, somos enganados, estamos cada vez mais iludidos. Nosso estilo de vida se tornou insustentável.
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